terça-feira, 4 de setembro de 2018

VITA BREVIS

Aos olhos dos homens, nem que vivam 100 anos, a vida é sempre curta. Para Deus, em quem acreditamos, depois de começar jamais acaba. Esta ideia/conceito deveria ser interiorizado por todos os homens e mulheres. Se assim pensássemos todos teríamos mais juizo, seríamos mais sensatos e cordiais no nosso relacionamento. Já viveríamos no Céu e a passagem, idêntica a uma metamorfose, seria alegre e calma.
Há 43 anos conheci o Zé Macedo quando fomos colocados em Fafe a leccionar. Foi no ano lectivo de 77/78. Nessa altura também morava em Dume, no Bairro de S. Martinho onde nasceu a minha filha Ana Isabel.
Nas conversas que fomos tendo e conhecendo as nossas capacidades, pensamos na formação de um grupo coral a 4 vozes. Já ia ensaiar a Dume desde o início de 70.
Passar da ideia à sua concretização, naquela altura, foi bastante fácil. Havia bastante juventude que, de bom grado, aderiu à ideia que deu frutos logo em Março de 88, na festa de S. Martinho.
Mas a vontade de alguns elementos, a começar pelo Zé Macedo, era a de ir mais além. Assim, a partir da experiência do Sr. Joaquim Janeiro, lançou a ideia de um grupo folclórico. E assim foi, assim se começou, assim ganhou nome e prestígio dentro e fora de portas graças ao dinamismo e saber do seu Presidente.
Muito trabalho foi realizado junto das entidades autárquicas e muitas benesses foram conquistadas para a Associação juridicamente constituida a partir de 1983. O teatro, os cavaquinhos e o Moinho vivo foram outras actividades que enriqueceram a Associação. Muitos trabalharam arduamente. Um, porém, destacou-se: o Prof. José Manuel Nogueira de Macedo.
Homem de uma só palavra, de ideias bem definidas e projectos bem calculados organizou inúmeros eventos para as diferentes valências com verdadeiro sucesso. Não duvido que a ele se deve a projecção da nossa Associação. É evidente que, sem a colaboração dos "mais pequeno ao maior" , nada poderíamos fazer.
Aos 67 anos, porém, o "infortúnio" bateu-lhe à porta. Mas terá sido infortúnio ou a hora exacta em que Deus o queria chamar?! Com um currículo invejável a todos os níveis: intelectual, social, humano, solidário, empreendedor e- bem o sabemos- religioso. Homem sério, honesto, verdadeiro, cristão interveniente e assíduo. O infortúnio não foi dele mas nosso. Ficamos sem o seu saber, sem o seu espírito de iniciativa, sem a sua experiência. Creio que, nós mesmos, precipitamos a sua partida! Saudades? Vão ser muitas e por muito tempo. Mas não podemos parar. A maior obra dele foi o rancho folclórico. Haverá alguém que, neste momento queira desistir? Temos de perpetuar a sua memória e honrá-la e, a melhor maneira de o fazer, é continuar fazendo um esforço maior; reestruturar, se necessário; criar uma equipa caso não haja ninguém que, sozinho, queira assumir a direcção do rancho. Ninguém está dispensado de colaborar.
Eu assumo o Grupo Coral e dou conhecimento das iniciativas. O Luis assume os cavaquinhos e, como já o vem fazendo exemplarmente, dá conhecimento das iniciativas. Há senhoras que querem continuar com os bordados e afins que também darão conta das iniciativas. Apareça alguém, sozinho ou em parceria no rancho folclórico. Assim poderemos partir para as eleições de Janeiro com a promessa de não darmos muito trabalho ao presidente que se candidate e seja eleito.
Não posso deixar de fazer este apelo em hora crítica, após convivência de 43 anos de trabalho com momentos bons e menos bons. Nenhum de nós é insubstituível. Mas há, em qualquer instituição, horas mais amargas em que as lágrimas têm de ser repartidas.
"Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!". "Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena"
Que Deus nos ajude, que o Zé Manuel nos inspire e anime, que a vontade e fidelidade de cada elemento seja firme e não cause embaraços na nossa caminhada. Já partiram muitos amigos que nos deixaram imensa saudade. É a lei da vida. A nossa obrigação é pegar no "andor" e levá-lo com alegria e coragem. Até breve, Zé. Deus é a nossa esperança.